terça-feira, 25 de março de 2008

A ingratidão

"Vade retro, satane".


A ingratidão era defeito tão grave que os gregos antigos a consideravam crime.

O advogado, principalmente o criminalista, convive esporadicamente, com esta praga do caráter humano. A regra é a gratidão.

Se a profissão do criminalista dar uma certa glória, o mesmo não se pode dizer do pão que propicia.

Raramente se ver um criminalista rico. Isso fica para os civilistas, tributaristas, previdenciaristas, etc.

Como contraponto, a natureza presenteou os criminalistas com o encanto, o enlevo, a memória no inconsciente coletivo.

O povo não esquece seus grandes criminalistas. No Brasil, Evaristo de Moraes, Evandro Lins e Silva, Valdir Troncoso Peres, Sobral Pinto e tantos outros. No Acre, Adauto Frota, Rubinho Lopes Torres, João Aguiar.

É que o criminalista, para exercer com brilho sua profissão, precisa de todas as virtudes possíveis.

Como dizia Manoel Pedro Pimentel o advogado " deve ter a coragem do leão e a mansidão do cordeiro; a altivez do príncipe e a humildade do escravo; a rapidez do relâmpago e a persistência de um pingo d´água; a solidez do carvalho e a flexibilidade do bambú".

Forçado a ser assim é que sente tanto a ingratidão dos clientes, principalmente a falta do muito obrigado.

Assim aconteceu num caso, já faz algum tempo. Defendia um determinado policial na Auditoria Militar, acusado de vários crimes contra a honra. O Ministério Público botou curto. Com muito esforço a absolvição foi alcançada, em todos os crimes.

Para minha surpresa, quando o julgamento chegou ao final, o acusado se levantou, cumprimentou todos os juízes, agradeceu a todo mundo, menos o advogado, aliás, olhou para este e disse simplesmente," tchau doutor, estou livre".

Falei comigo mesmo, na hora, a frase que Galileu disse para si mesmo também, diante do Tribunal da Santa Inquisição: "Apesar disso, a terra continua girando".

O Ministério Público recorreu da decisão, e eu como tenho um pouco dos gregos, disse ao acusado que por uma questão de foro íntimo, não permaneceria no caso, que ele não me devia mais nada e que eu não devia mais nada a ele.

Só quem já passou por isso sabe do que eu estou falando. Já li em algum canto que a gratidão é sempre um bom honorário.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns!!!