segunda-feira, 7 de abril de 2008

Meu sapato marrom

Gerson Boaventura


A fato aconteceu na cidade de Cruzeiro do Sul, onde atuava como Defensor Público.

Em julho de 2005 minha casa foi furtada, tendo o larápio subtraído inúmeros bens. Entre os produtos que foram furtados estava um sapato de cor marrom.

Um mês depois fui intimado para efetivar, no plenário do Tribunal do Júri, a defesa de um réu que se encontrava há mais de um ano preso.

Depois de uma longa conversa com o réu, o orientei que fosse vestido, no dia do julgamento, com a melhor roupa que ele tivesse.

Tal orientação eu sempre adoto para réus portadores de tatuagens, pois como se sabe no júri a má aparência contribui para uma condenação...

No dia do julgamento, seguindo a minha sugestão, o réu foi conduzido até o fórum daquela Comarca muito bem vestido.

Para minha surpresa ele calçava o meu sapato marrom que fora furtado da minha residência. Então reagindo impulsivamente àquela cena, vociferei: - Êpa! Este sapato é meu! Foi furtado lá de casa, como ele foi para em seus pés? O desconsertado réu passou a mão no rosto e disse:- doutor este sapato foi minha namorada que levou para mim... Eu não sei com foi que ela conseguiu não.

Depois disso o gracejo foi geral, a promotora e o juiz não se agüentavam de tanto rir...

Por fim, o júri não se realizou pela ausência de uma testemunha importante. E eu depois de uma investigação particular, descobri que o ladrão era o irmão do azarado réu. Então consegui recuperar parte da res furtiva, mas o sapato em questão acabei por "presentear" o réu.

Até hoje a promotora que iria atuar naquele julgamento relembra o fato e não segura o riso.

Gerson Boaventura é Defensor Público, vice-presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do Estado do Acre - ACRIM

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Sanderson, esta foi legal!!!
São coisas da lida forense, talvez o defensor público do caso foi vítima dos seus próprios assistidos. rsrsrsrs
Mas ele é dedicado!!!