quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O destino segundo o filósofo

"Você não é programado. Não existe destino - isso é invenção dos covardes, é invenção de pessoas que não querem fazer nada na vida, que são tão preguiçosas, tão covardes que não querem correr riscos.

Eles jogam toda a responsabilidade em Deus. Chamam isso de destino, carma, sina e milhares de nome, mas tudo é basicamente um truque para evitar o fato de que "minha vida é minha responsabilidade. O que sou fui eu que criei, e o que serei amanhã estou criando hoje.

É do hoje que serão feito muitos amanhãs. E se você estiver alerta um pequeno toque pode mudar toda a história.

Somos absolutamente responsável por aquilo que somos. Essa é a primeira coisa a aceitar. No começo incomoda, porque o ego se sente gravemente ferido: "Será minha responsabilidade? Então fui eu que criei toda essa confusão, todo esse caos que eu sou?" Fere o ego, mas se compreender isso pode ser o começo de uma nova vida".

As palavras acima são do filósofo e místico indiano Osho.

O destino nós fazemos diariamente, só assim podemos entender e empregar a palavra destino.

O futuro é consequência do que fomos e do que somos. Vale sempre a lei do plantou colheu. Mas esse destino, se assim gostamos de chamar, não está traçado por Deus, que nos deu a liberdade de escolha, de fazermos nossa vida da maneira que queremos, nisso reside a grandeza da vida, sermos autocriadores com o próprio criador.

Não fujamos da nossa responsabilidade mesmo que isso nos cause dor, desespero, desilusão. é preciso coragem. Tudo passa e no momento certo o mar se acalma e as águas serenam. Isso é maturidade, isso é consciência. Mas tudo a seu tempo.

O livre arbítrio é da natureza da própria criação. Mas a lei da colheita também. E tudo tem seu tempo também é inerente a vida.

Assim eu penso, e atende a minha compreensão, mas tenho consciência que outros já pensam diferente e atende a compreenssão deles. A vida com todas a divergências e com todas diferenças se torna mais rica, mais dialética, mais bela, mais extasiante.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Carta dos Criminalistas/2009

Confira o inteiro teor da carta dos criminalistas/2009, elaborada entre os dias 22, 23, 24 de outubro em Aracaju- Sergipe. http://abrac.adv.br

Vale a pena examinar os pontos abordados no documento, para melhor balizarmos nossa atuação profissional.

Os criminalistas defendem que só um Estado Democrático de Direito pode conciliar as exigências da segurança pública com as salvaguardas dos direitos individuais.

Na carta os criminalistas reafirmam a importância social da advocacia e conclamam os advogados a lutarem com destemor em defesa da legalidade.

Dentre outros pontos importantes a carta destaca que a manutenção da lei e da ordem no nosso país deve ser dar sob o manto da primazia constitucional.

E bradam de mãos dadas:

"Em nome do direito de defesa do cidadão e do estado democrático de direito queremos o Brasil que a Constituição Federal prometeu".

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Um juiz de verdade

Li, com intenso prazer, o livro Cartas a um jovem juiz: cada processo hospeda uma vida, escrito pelo Presidente atual do Superior Tribunal de Justiça, Cesar Asfor Rocha.

Homem imbuído dos mais altos ideais de justiça, de plano rechaça a máxima maquiavélica no Templo de Thêmis:

"É importante e necessário que os fins da jurisdição sejam atingidos, mas não por meios escusos ou condenáveis pela moral, porque isso seria a contrafação da jurisdição, talvez igual a aceitação da tortura para obter a confissão do acusado".

Todos juízes, dos mais novos ao mais experientes deveriam ler estas cartas, que sem dúvida se tornarão clássicas no meio forense.

São livros como esses que renovam minha fé na justiça e energiza minha atuação profissional.

Ao aconselhar os juízes, Cesar Asfor Rocha aconselha também os advogados, que como bem disse são os juízes dos juízes.

Gosto de aprender o direito a partir da experiência, não sendo muito afeito as leituras cansativas de tratados acadêmicos, de erudição oca ou de gongorismo estéril.

Cesar Asfor Rocha, além de reconhecido intelectual é um homem de saber de experiência feito. Advogou mais de 20 anos antes de ingressar no STJ pelo quinto constitucional. E hoje é um dos magistrados mais respeitados do pais.

O livro foi carinhosamente lido, grifado, feito os apontamentos para serem usados na hora certa, tanto no júri como noutras tribunas, pois é a voz de uma autoridade que merece todo o nosso respeito e acatamento.

Uma das qualidades do magistrado, segundo o autor é a temperança, qualidade que torna o homem moderado, sereno, capaz de agir com sobriedade e parcimônia sobre a conduta dos outros homens, seus direitos e interesses.

Ensina também que "ignorar que o processo esconde a vida de seres humanos é o mesmo que tratá-los como meros números indiferentes e reduzir a função julgadora a algo sobremodo banal."

Como disse, o livro é rico, e não vou entregar de bandeja neste texto tudo o que de bom ele contem.

Ao final da obra ele exorta com firmeza a magistratura nacional:

"Não queira ser o vingador da sociedade nem seu carrasco, não se vincule ao papel de investigador nem de acusador, embora o sistema apareça atribuir-lhe tal função, essa é uma ilusão de ótica jurídica.

A justiça não se afoba, não se enfurece, não se regozija com a sanção, não se alegra com a perseguição nem se ufana de seu poder; ao contrário, é prudente, compreensiva, atenta e criteriosa. Nunca se jacte, meu amigo, do poder de condenar, nunca se alegre seu coração com o rigor de sua sentença nem pense que sua decisão é a certa, a perfeita ou a única possível".

E conclui:

"Está em sua mãos o poder - este sim - de fazer o mundo melhor, mais cerimonioso com a condição humana e muito mais feliz".

Eis uma excelente dica de leitura para os corações comprometidos com a grande causa da justiça.

Um símbolo de coragem

1989, Praça da Paz Celestial, China.

Garganta oprimida.

Um homem.

A resposta.

A grandeza da coragem.

Um símbolo.

Imorredouro.

De luz.

De poesia.

De beleza.

Um quadro na parede a parar um exército.

A lembrar.

Um dos 100 personagem mais influentes do século XX.

O homem é um céu sem limites.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A palavra é a alma

Do livro As Palavras Andantes, de Eduardo Galeano:

"Em guarani ñé significa palavra e também significa alma.

Creem os índios guaranis que os que mentem a palavra, ou a dilapidam, são traidores da alma".

A palavra revela a personalidade de uma pessoa e sua essência mais íntima, que nós chamamos pelo nome de espírito.

Sócrates já dizia: "Fala para que eu te conheça".

Na medida que vamos burilando nosso espírito vamos tendo mais consciência da força das nossas palavras, e por consequência, vigiamos melhor a saída de palavras malditas vindas da nossa boca. O contrário também acontece, pois quando melhoramos a forma de nos comunicarmos aperfeiçoamos nossa alma e damos passo importante na escalada da evolução.

Por isso diz o poeta que quem mente está traindo a própria alma, pois bem lá no centro do nosso ser só existe verdade, a consciência universal, que é o próprio Deus fazendo morada em cada ser que habita a terra.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Diferença entre eloqüência e eloquência

Com a reforma ortográfica, o trema já é coisa do passado.

Mas não na palavra eloqüência, pelo menos quando nos referimos à verdadeira eloqüência.

Ela tem trema tanto na fala quando na escrita. O trema dá uma beleza natural e inexplicavél a esta palavra. Sem trema ela perde o vigor, o brilho, a força, a importância, o poder.

Adaptei-me em grande medida a todas as palavras que sofreram modificações com a reforma ortográfica, até mesmo com o acriano, tão combatido; mas com a palavra eloqüência continuarei usando-a à moda antiga, e à moda dos antigos. Não vou fazer vestibular, não vou prestar concurso, não vou disputar nenhuma vaga na Academia Acriana de Letras ou coisas parecidas.

Eloqüência é diferente de eloquência. Uma pessoa pode até ser eloquente, mas não é eloqüente.

A eloqüência é dom, é dádiva da natureza, é a própria estética da vida que se manifesta na comunicação humana. Já a eloquência é artificial, treinada em laboratório, uma flor de plástico.

Essa diferença é real, mas só se percebe pela sensibilidade, pelos olhos da intuição, pelo coração, que é por onde nascem e jorram as palavras da ciência do bendizer.

A eloqüência faz tremer, e quando treme se faz temida. A mentira a teme, a injustiça a teme, o arbítrio a teme, o mal se curva.

Trema de medo ou de encanto, porque a eloqüência quando fala, é como o Uirapurú das nossas matas, todos ficam mudos ao seu cantar.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Estátua da Eloqüência

Fiquei, por algumas razões, um pouco confuso ao saber que a imagem ao lado é da Estátua da Eloqüência, localizada em Coimbra, Portugal. Primeiro, por encontra-se sentada, quando de pé, em tese, é a postura ideal de quem pretende convencer alguém; segundo, por não ter a outra mão livre para auxiliar na argumentação; terceiro, pela aparente falta de vigor com que gesticula e fala.

No entanto, ao analisar mais conscientemente a representação, lembrei-me que o Sermão da Montanha foi feito sentado.

Ao examinar com mais atenção a representação, recordei-me que era sentado que Buda proferia seus ensinamentos.

Era assim também que o Rei Salomão ensinava na Corte, transmitindo sua Sabedoria com suavidade.

Ao olhar mais detidamente a representação, lembrei-me que Osho falava sentado quando se dirigia a seus discípulos.

É assim também que uma mãe aconselha um filho, com doçura, com bondade, com amor, com verdade nas palavras, que brotam do coração.

Compreendi que a Eloqüência, depois de estudar melhor a representação acima, não precisa de gestos tresloucados, nem mesmo precisa ficar de pé para falar, gritar, ou mesmo fazer cara feia para orientar, encaminhar, clarear, persuadir, convencer.

Podemos perceber, na imagem acima, que a Eloqüência traz a cabeça coroada de louros, simbolizando a vitória, a força, o brilho, o encantamento das palavras abençoadas.

Toda a força das palavras da Eloqüência vem pela verdade do é dito, pela maravilha das palavras transmitidas, como a paz do sereno da madrugada, que rega e que nutre, que sacia e que acalma, que desperta e que renova, o espírito de todos que a escutam, e aí já não importa se elas são ditas de pé ou sentado, com uma ou duas mãos auxiliando na gesticulação, isso já não importa, porque quando a Eloqüência fala só a comprendem aqueles que sabem também ouvir com o coração.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O inocente protesta

Defendia certo cidadão no Tribunal do Júri quando em determinado momento, na minha mente, duvidei por demais da sua inocência, mais do que o razoável para o exercício ético da profissão.

Pedi ao juiz suspensão dos trabalhos e chamei o acusado para um particular.

Falei de determinadas provas que apontavam a autoria para ele, e que já seria muito difícil sustentar a tese prevista.

Meu amigo...! Este homem ficou uma fera, indignado com a minha insinuação. Virou a cara e transtornado saiu de perto de mim. Só mais tarde foi acalmado pela família.

De volta ao Tribunal do Júri, durante duas horas, falei com firmeza, o que me fez navegar pelos mares da história e da filosofia defendendo a inocência do acusado, com exemplos, com frases de efeito, sob o domínio do fogo convicção, ali já não era mais eu, era a defesa falando, essa energia que pulsa da natureza, e o Júri por 6x1 acatou o pedido da defesa.

Precisava eu ter agido da maneira que agi para senti melhor a verdade do acusado, colocar a versão dele em dúvida, para ver como seria sua reação.

E nós, advogados, já peritos na psicologia dos acusados, sabemos como eles se defendem.

O inocente, como regra, não se deixa imolar, ele protesta, grita, afronta, se rebela. E assim o homem fez, ajudando a formar a convicção do próprio advogado, e contribuindo para a vitória da realeza justiça.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Que nível?

Lendo o bom livro Você Pode Falar Melhor, do Pastor Evangélico Noélio Duarte, deparei-me com uma passagem que bem reflete a realidade atual, e aponta para a importância do falar bem como instrumento de realização pessoal e profissional.

Conta o pastor que certa vez abriu o jornal de domingo, no caderno de classificados e na seção de empregos viu muitas, dezenas, centenas, milhares de ofertas.

No domingo seguinte viu publicado os mesmos anúncios. Ficou inconformado porque eram bons empregos, com benefícios e salários altos.

Curioso com aquela situação pegou o telefone, ligou para o lugar e perguntou a atendente se a vaga tinha sido preenchida. A resposta foi não. Perguntou o por quê. A voz suave respondeu: "O nível da maioria é muito fraco".

Diz que retrucou: "Que nível? Social? Cultural? Econômico? Que nível?"

Aquela voz novamente o respondeu: "O nível de comunicação. É muito baixo, é muito pobre".

Ensina, o Pastor, que pelo nosso modo de falar, somos rotulados de simpáticos ou antipáticos, passivos ou ativos, inteligentes ou bloqueados, estúpidos ou tranquilos, claros ou confusos, emotivos ou racionais.

Lembro-me de uma frase de Sócrates que bem fortalece o que disse o Pastor: "Fala para que eu te conheça".

Em qualquer profissão, em todas as situações da vida precisamos saber nos comunicar. A vida é comunicação. E hoje já está mais do que provado que o nível de comunicação de uma pessoa catapulta ou sepulta os sonhos que ela embala.

Vivemos numa época em que o falar bem vem ganhando grande importância e as pessoas que são sensíveis aos sinais dos tempos procuram aperfeiçoar sua comunicação, esse dom que Deus nos deu para participarmos da obra da evolução.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sócrates no Tribunal

Lendo o livro Intuição: O Saber Além da Lógica, de Osho, deparei-me com uma reflexão que muito interessa aos cultores do direito.

Osho fala que existem dois níveis de consciência: aquele onde a força é quem diz o que é o certo, e aqueloutro, onde o certo é quem diz o que tem força.

Podemos entender um como o direito da força, e o outro, como a força do direito.

A força diz o que é certo por meio da violência, da ameaça, da guerra.

O certo diz o que tem força pela inteligência, pela lógica, pela ciência, pela razão, pela argumentação.

Esses dois níveis de consciência debateram-se no julgamento do filósofo Sócrates.

Sócrates perguntou ao Tribunal:

"Quais são os meu crimes?"

O Tribunal respondeu:

"Corromper a mente da juventude".

Sócrates redarguiu:

"Mais isso não é crime. O que vocês chamam de corrupção eu chamo de consciência, de criação. Vocês é que enganam e corrompem os jovens mantendo-os nas na escuridão da ignorância."

O debate continuou por vários dias. No que diz respeito a inteligência, um homem sozinho calou a boca de toda a medíocre sociedade ateniense da época.

Quando alguém comunicou o resultado condenatório a Sócrates, ele disse: "Votar não pode provar o que é certo e o que errado. Na verdade, a maior possibilidade é que as pessoas votem pelo que está errado, porque a maioria das pessoas ainda se encontram no plano da ignorância."

Sócrates estabeleceu o que é certo por meio da inteligência, da razão, da lógica, da argumentação. E foi vitorioso mesmo, na condenação. Sua luz ainda clareia as trevas da ignorância de nossa humanidade.

E chegará um dia que a vitória definitiva será da luz do saber, onde todas as consciências humanas terão morada na claridade do verdadeiro conhecimento universal.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Não existe justiça para pobre"

A justiça só se manifesta para aqueles que creem nela.

Indignada, transtornada, chorando muito, foi assim que dias desses uma senhora apareceu no meu escritório. Dizia que seu irmão vinha sofrendo grandes injustiças. Culpava os advogados que foram pagos para defendê-lo e que traíram a causa. Falou do sofrimento da família, da depressão do pai, do definhamento da mãe, das dores que o coração suporta. Pude compreender as razões daquela alma aflita.

Em determinado momento da conversa escutei um brado de revolta: "Não existe justiça para pobre, doutor!""Todas as portas estão fechadas". E me suplicou:" Nos ajude doutor, nos ajude doutor. Pelo menos diga por onde começarmos".

Parei um pouco, pensei, deixei suas palavras esfriarem e depois aconselhei:"Comece acreditando mais na justiça. Se a justiça não existe para pobre é porque a senhora está sentenciando, dizendo, afirmando isso. Sou advogado e posso lhe assegurar que a justiça existe para todos. Basta sabermos olhar, buscar, procurar, lutarmos com confiança, porque a justiça vem de Deus, e Deus é sempre justo. E a justiça só se manifesta para aqueles que creem nela. Pense assim que as portas se abrirão e a senhora vai encontrar para o seu irmão a justiça que ele estiver merecendo, e tenha certeza que a encontrará."

Um silêncio se fez, uma reflexão tomava de conta da sala, ela olhou-me com olhos mais brilhantes e disse-me, emocionada: "Obrigado doutor, buscava mais força, mais ânimo para poder continuar ajudando o meu irmão, e encontrei aqui com o senhor. Vou lutar pelos direitos do meu irmão e vou conseguir, se Deus quiser."

A negatividade que tomava de conta daquela mulher foi substituída por uma firme energia positiva, e tenho certeza que não vai custar muito para que ela se veja dando glórias a Deus pela justiça encontrada.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pena de "degrado"

"Eis aí, pois, o que é justo: o proporcional; e o injusto é o que viola a proporção".(Aristóteles)

Entre outras promessas não implementadas ou mentiras oficiais, nossa Constituição Federal veda as penas de morte, perpétuas, trabalhos forçados, de banimento e de caráter cruel no seu artigo 5.º, inc. XLVII. No inciso XLIX, do mesmo artigo, enuncia: "é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral" (esqueceram comunicar para os diretores de presídios?).

O Estado tem se preocupado o quanto pode e se apresenta severíssimo com os que violam as normas penais. Nossos juízes valoram com suas pesadas canetas as condutas dos que cometeram crimes. Ninguém se preocupa com os crimes que cometemos contra eles nos processos de execuções de penas. As tentativas de ressocialização são tíbias e esbarram em severas limitações orçamentárias. Assumimos a pobreza completa de viver em uma era em que "a mãe de todas as ciências" não é mais a filosofia e sim a economia. Por conta disto e do falso discurso da "reserva do possível", não proporcionamos sequer um lugar adequado para o interno dormir ou mesmo ficar em pé, uma torneira ou um banheiro onde pudesse se olhar em um espelho. Seus familiares são submetidos a revistas das mais vexatórias e não contam com qualquer acompanhamento especializado eficiente.

Nossa Constituição invoca a proteção de Deus em seu preâmbulo, para um povo de maioria cristã e toda a maravilha desse ensinamento religioso pode ser resumida em uma frase: "não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento..." Inadmissível o deprimente quadro atual. Quem disse que cadeia boa é aquela que mata ou faz sofrer o apenado ao máximo da suportabilidade humana? É uma contradição tamanha que caso um interno perguntasse: "estou arrependido e agora, como fazer para me penitenciar? Quem me ensina? Quem me avalia? Em que portas devo entrar e em que condições devo sair? fazer o que aqui dentro e fazer o que lá fora? Ninguém teria respostas! Para o nosso sistema, não basta aprisionar! Indaga em sua tese de doutorado o Colega Eliel V. Karkles: "desde quando o desvio de conduta se encerra cronologicamente pura e simplesmente?" Em seu estudo junto a Penitenciária Lemos Brito, aponta situações de vulnerabilidade inclusive da família do apenado, sendo esta a base que da sustentabilidade ao interno durante e após o cumprimento da pena.

Conhecíamos a antiga pena de degredo ou de expulsão de alguém da sua terra natal. Agora o Brasil "contribui" para o altar da ciência do direito com a pena de "degrado" onde os juízes, por falta de opções, já que manter presídios dentro da legalidade é encargo do Executivo, determinam e velam para que se cumpra, em verdade, uma ordem de degradação humana. Espécie de morte lenta por degradação física e moral, onde os eventuais sobreviventes voltarão um dia para o convívio social com altíssimas probabilidades de compor cifras negras cada vez mais alarmantes de reincidência. Assim, hipocritamente, devolvemos os degradados para a sociedade, como se disséssemos: Que o "deus mercado" os proteja...

Elias Mattar Assad é ex-presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas.eliasmattarassad@yahoo.com.br

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Os sete hábitos do advogado bem-sucedido

"Não existe atalho algum para o desenvolvimento. A lei da colheita nos governa. Sempre colhemos o que semeamos - nem mais, nem menos".

É isso que afirma o autor Stephen Covey do livro Os Sete Hábitos das Pessoas Muito Eficazes. Ele defende que os modelos mentais são as lentes através das quais vemos o mundo, o que determina o nosso modo de pensar e de agir. Isso quer dizer que enxergamos o mundo não exatamente como ele é, mas como nós estamos condicionados a vê-lo.

A experiência do referido autor com treinamento de executivos em cem das quinhentas maiores empresas listadas pela revista Fortune, permitiu-lhe demonstrar que sete hábitos distinguem as pessoas bem sucedidas: a conduta pró-ativa, o estabelecimento de objetivos, a capacidade de priorização, a postura ganha-ganha, a atitude de primeiro compreender e depois buscar ser compreendido, a sinergia e a renovação.

Tais hábitos valem para todo e qualquer ser humano que pretenda desenvolver sua vida sob o manto da eficácia. E, se nós somos as criaturas do hábito, consequentemente, serão eles que irão definir quem nós somos.

Nido Qubein, consultor internacional, costuma afirmar que "bons hábitos são de difícil desenvolvimento, mas de fácil convivência; maus hábitos são de fácil desenvolvimento, mas de difícil convivência". Pense no hábito da leitura, no hábito de construir e desenvolver relacionamentos, no hábito de chegar atrasado aos compromissos, no hábito da organização pessoal, etc.

No caso da Advocacia, da mesma forma, são os nossos hábitos como profissionais do Direito que irão definir o futuro de nossas carreiras. E pensando em quais hábitos teriam o condão de fazer um advogado ser bem sucedido ou não, sugerimos os seguintes:

1. Leia pelo menos uma hora por dia. Leia de tudo, não apenas textos jurídicos. Amplie o seu conhecimento sobre o mundo, amplie sua cultura geral, conheça mais sobre os negócios dos seus clientes. Leia no trânsito (se não estiver dirigindo, claro), no avião, na sala de espera do médico. Leia sobre assuntos que sejam inspiradores.

2. Seu sucesso depende de suas escolhas. Isso não tem nada a ver com as circunstâncias em que você se encontra, mas com relação aos "nãos" que você diz ao longo da vida. Escolha bem o seu sócio, os seus advogados associados, os seus estagiários, a sua secretária, a área do Direito em que você vai atuar, os seus investimentos, o perfil dos seus clientes. E lembre-se: existem escolhas que nos acompanham pelo resto de nossas vidas. É preciso ter coragem para tomar os melhores caminhos.

3. Fale com as pessoas. Separe um tempo, todos os dias, para ligar para 4 pessoas (clientes, colegas, parceiros, amigos, etc.). Isso significa 20 pessoas por semana, 1.000 pessoas no ano. Não importa a razão do seu contato, ligue apenas para perguntar se estão bem, se os negócios vão bem, se a família vai bem. Sabiamente, já diziam os mais antigos: "quem não é visto, não é lembrado".

4. Seja organizado. Mantenha sua mesa de trabalho limpa. Todos os dias. Não saia do escritório sem deixá-la organizada para o dia seguinte. Habitue-se a só conseguir trabalhar se tudo estiver impecavelmente no lugar. Nada de montanhas de papel na sua frente!

5. Construa sua reputação. Se alguém perguntar sobre você para algum de seus clientes, o que ele falaria? Será que na sua frente ele diria uma coisa, e na sua ausência outra? Ser ético é um hábito; ser honesto é um hábito; ser sincero é um hábito; ser justo é um hábito. Se nos acostumamos a agir sabendo que qualquer deslize pode por fim a uma reputação ilibada, seguramente trataremos de construir a nossa com muito cuidado e zelo.

6. Aprenda. Todos os dias, antes de dormir, pergunte a si mesmo: "o que eu aprendi hoje?". Experimente aprender algo novo todos os dias. Quanto mais você sabe, mais você será capaz de aplicar seus conhecimentos no seu dia-a-dia. Aprenda uma nova função do seu editor de texto, aprenda uma nova língua, aprenda a tocar um instrumento, aprenda uma forma nova de gerenciar seu escritório.

7. Ensine. Use todo o seu conhecimento, armazenado e construído por anos a fio para transformar as vidas dos profissionais que o cercam. Compartilhe com a sua equipe a sua visão sobre a advocacia, sobre aquela tese de Direito Tributário que você tanto estudou, sobre como se preparar para uma sustentação oral, sobre como tratar o cliente.

Ser um advogado bem-sucedido, ao contrário do que muitos possam pensar, está muito distante do imediatismo ou do "lance de sorte" que faz trazer para o escritório o patrocínio "daquele" inventário, "daqueles" honorários de sucumbência e "daquele" contrato, cujas cifras sejam milionárias.

Ser um advogado bem-sucedido é fazer com que as oportunidades permitam que tudo isso aconteça, mas, que por trás das cifras milionárias, o cliente possa encontrar um profissional que, antes de tudo e durante todo o curso de sua carreira, tem por hábito preocupar-se com o seu autodesenvolvimento e de sua equipe, que tem por hábito pautar sua conduta nos princípios fundamentais da saudável convivência humana.

Assim, é preciso rever os hábitos de hoje, pois, sem dúvida alguma, essa é a matéria-prima do seu destino... Do seu futuro.

* Lara Selem é advogada e consultora em Gestão de Serviços Jurídicos. Executive MBA pela Baldwin Wallace College (EUA), especialista em Gestão de Serviços Jurídicos pela FGV-EDESP (SP). Autora dos livros "Estratégia na Advocacia" (Ed. Juruá, 2003), "Gestão Judiciária Estratégica" (ESMARN, 2004), "A Reinvenção da Advocacia" (Forense/Fundo de Cultura, no prelo).