terça-feira, 30 de março de 2010

A paciência forense

O advogado deve ser um homem de natural paciência. Paciência com o servidor preguiçoso e mal-humorado. Paciência com o juiz arbitrário e o promotor arrogante. Paciência consigo mesmo. Paciente com o cliente chato e incompreensível. Paciência com tanta coisa!

Com paciência a gente chega, conquista, e é preciso também paciência para se ter paciência.

Não confundir paciência com servilismo, com cumplicidade, com colaboração ao erro. A paciência é uma ciência que conduz à sabedoria. Quando é para agir ela age, com firmeza, com coragem, mas dentro de uma clima de autodomínio, de consciência da ação. Mesmo agindo contra o descaso, o erro, a ilegalidade, deve o advogado ser paciente. A paciência deve está no início, no meio e do fim de tudo o que fazemos.

Como é linda a paciência! Não aquela forçada, mentirosa, forjada, que percebemos de imediato. Mas aquela que brota do homem em estado de avançada evolução espiritual, de amadurecimento do caráter, de compreensão da vida, do tempo.

Com paciência forense, que é a manifestação da paciência no nosso meio jurídico, muitas portas se abrem em favor do advogado: a porta da verdade, a porta do saber, a porta da justiça. E só é bom ser advogado quando passamos por essas portas que são fontes que nutrem nosso amor à profissão.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Advogado: de revisor a supervisor

Todo advogado deve ser um revisor da sua obra. Revisar é ver novamente, examinar de novo.

Escreveu uma petição, revise-a. Tem um plano de defesa para sustentar oralmente, revise-o. Revise seu dia, revise suas ações, revise seus pensamentos, revise suas palavras.

Veja e reveja o português, a argumentação, a diagramação, o nome das pessoas, o número do processo, veja e reveja tudo.

Revisar é demonstrar zelo pelo que se faz. Tantas dores de cabeça serão evitadas! Revisar traz segurança.

A revisão é uma força importante. De revisão em revisão você chega a supervisão. A visão madura, do todo, ponderada, equilibrada, bem construída, do advogado que sabe o que quer.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Solidariedade ao criminalista Roberto Podval

"A lei é calma, senhores, não tem jamais sequer os arrebatamentos da generosidade. Assentou ela que a verdade não será possível de achar, senão quando buscada juntamente pela acusação e pela defesa. O legislador quis que ao lado do réu, fosse quem fosse, houvesse sempre uma palavra leal e honrada para conter, quanto se possa, as comoções da multidão, as quais, tanto mais terríveis, quanto generosas, ameaçam abafar a verdade". Rui Barbosa, O Dever do Advogado.

Como Presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do Acre - Acrim faço minhas as palavras de Wadih Damous, presidente da OAB/RJ:

“O direito de defesa é um princípio civilizatório comumente desrespeitado pelas tiranias. Hoje, com o caso Isabella Nardoni, presenciamos a substituição da tirania estatal pela tirania da opinião pública e da mídia. Poucas vezes se viu em nosso país tamanho desrespeito às prerrogativas da defesa, com agressões morais e físicas na porta do Fórum ao advogado encarregado da defesa do casal Nardoni.

Quem decreta a inocência ou a culpa de um acusado é o Poder Judiciário, não os jornais nem chamada opinião pública. O que estamos vendo é um inaceitável pré-julgamento, o que gera a impressão de um jogo de cartas marcadas, onde a sentença condenatória já está proferida.

Tal quadro abre um precedente gravíssimo de atentado ao Estado de Direito, onde todos são inocentes até a sentença penal condenatória transitada em julgado. Empresto a minha irrestrita solidariedade ao advogado Roberto Podval, que, com bravura, tem exercido a sua missão constitucional, sem medo da impopularidade, em prol do sagrado direito de defesa.”

quinta-feira, 25 de março de 2010

Significado do nome Sanderson

Por esses dias, pesquisando na internet algumas matérias para meu arquivo pessoal, deparei-me com um texto que diz que o nome Sanderson significa o voraz. Tudo bem, sou um voraz leitor em busca de saciar minha sede de conhecimento. Mas o verdadeiro significado do nome não é este.

Quando estava no seminário, por volta de 1991, um irmão marista, chamado Irmão Salvador, grande conhecedor de línguas, um poliglota, um linguista, ensinava, numa determinada ocasião, numa mesa de jantar, posta no pátio, ao clarão da lua, o significado dos nomes dos que ali se assentavam, nos despertando grande admiração pela sua vasta cultura.

Quando chegou minha vez falei meu nome, e ele ficou olhando para cima, com os olhos arregalados, girando-os lentamente de um lado para o outro, como que estivesse buscando em seus arquivos mentais a real etimologia da palavra.

Voltou o olhar para mim, e disse-me, hipnoticamente: Son... de... sun..., San...der...son... É um nome anglo- saxão. Son, fillho; sun, sol. Filho do Sol.

Eu tinha por volta de meus catorze anos de idade. E fiquei extasiado com o saber daquele homem, e como gostei do significado de meu nome! Filho da luz da clareza do sol!

O nome, como sabemos, diz muito a respeito do que a pessoa é. Ser Filho do Sol é uma verdadeira responsabilidade. Às vezes, no caminhar da vida, a escuridão chega, o erro aparece, a queda acontece, somos humanos, falhos, em busca de evolução.

Mas a vida é dialética. Com o erro a gente aprende, cresce, amadurece, se firma, se torna mais forte, brilha mais bonito. É ser um Filho do Sol que um dia quero me tornar, verdadeiramente, honrando o real significado do nome que meus pais me presentearam.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sobral Pinto e o comunista: a força da espiritualidade na advocacia

Se diz que a fé move montanhas. A fé em Deus, na Justiça, na Liberdade.

Ao terminar de ler o livro Sobral Pinto, o advogado, percebi com mais clareza que a espiritualidade, que a religiosidade é uma preciosa fonte de energia para atuação do advogado. Nela se pode encontrar independência, orientação, coragem, vigor, alento, esperança...

Veja a resposta que Sobral Pinto deu a Luis Carlos Prestes, famoso comunista brasileiro e antigo cliente seu, que em determinada oportunidade afirmou que fé e ciência eram incompatíveis.

"Uma palavra final. O sr. teve, no decorrer das horas mais amargas de sua vida, a prova de que a fé religiosa faz de um homem crente uma força indomável e destemerosa, que afronta riscos e perigos para fazer prevalecer a virtude da Justiça, que emana diretamente da crença desse homem.

O sr. sabe ainda que esta fé religiosa deu alento, coragem e estímulo a este que vos fala, que a lei pôs ao seu lado, para defendê-lo contra a sua própria vontade, com toda a lealdade que a dignidade humana exige, e que se fez, no decurso dos anos, amigo sincero seu e dos membros de sua família.

Pode continuar a dispor, como nos anos terríveis do Estado Novo, dos serviços desinteressados deste que se fez, para sempre, seu amigo e que espera poder abraçá-lo, um dia, no seio eterno de Deus, quando a fé voltar de novo a alimentar-lhe o espírito, enriquecido pela humildade e arrependido do orgulho que , hoje, o afasta de seu criador."

Foi a força da fé que fez de Sobral Pinto um advogado espiritualizado, um modelo, um exemplo, um paradigma de nossa nobre profissão. Foi chamado de muitas maneiras: o advogado dos advogados, o advogado das liberdades, o defensor dos direitos humanos, a consciência do Brasil, o advogado universal.

E de onde vinha toda a sua pujança, toda a sua bravura, toda a sua independência? Vinha da fonte da espiritualidade, lugar de sublime riqueza, que os grandes advogados tiveram a bênção de encontrar, de encontrar e de reconhecer o seu valor.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A pugnicidade do advogado

Uma das qualidades que Sobral Pinto mais enaltecia no advogado era a pugnicidade.

Lendo o livro Sobral Pinto, o advogado, de Aristóteles Atheniense, é possível sentir todo o significado da palavra pugnicidade. Um homem que atravessou o século pugnando em favor do direito e combatendo as ditaduras.

Pugnicidade é a luta incansável e persistente e constante e corajosa na defesa da causa, sem preguiça, sem cansaço, sem procrastinação, sem retardamento, sem desculpas para agir, sem desídia, sem embromação.

Realmente a pugnicidade é uma qualidade, um atributo inerente à advocacia autêntica, clássica, original.

Quando Sobral Pinto fala na pugnicidade não usa uma palavra vazia, aleatória. Quando engradece essa qualidade o faz com consciência, e não é a toa que foi chamado por John W.F. Dulles de A consciencia do brasil.

terça-feira, 16 de março de 2010

Ser resoluto e saber explicar

Ser resoluto e saber explicar são duas qualidades importantes que o advogado deve cultivar, dentre tantas outras.

Ser resoluto, ser decidido, ser firme, ser corajoso, ser afirmativo, saber o que quer, assim se compreende a qualidade de ser resoluto. A dúvida, o titubeio, o claudicamento, são falhas do caráter que não condiz com o ser advogado.

Saber explicar, saber falar, saber dizer, saber sustentar, isso é quase tudo na profissão. Advocacia e oratória são irmãs siamesas.

Se tirarmos essas duas qualidades de um advogado, outra coisa não restará do homem senão um covarde, um fraco, um incompetente carregando um título de nobreza que seus ombros não podem sustentar.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O gênio no júri

"Se de noite chorares pelo sol não verás as estrelas". Tagore

Valdir Troncoso Peres, um dos maiores tribunos do direito brasileiro, dizia que antes de realizar um júri buscava conviver com os gênios para buscar com eles um pouco de inspiração.

Lia os poetas, os literatos, os filósofos, os homens conhecedores da alma humana. Assim podia mergulhar fundo no comportamento humano, buscar suas motivações, entender, compreender, explicar, justificar seus atos tidos como criminosos.

Homero, Ovídio, Tagore, Shakespeare, Dostoievski, Tolstoi, Maiakovski.

Saía do "terra a terra", da superficialidade, da aparência, e lançava o pensamento nos céus da genialidade, e ligado a esta fonte de saber tornava seus júris peças memoráveis da inteligência e documentos grandiosos de eloquencia judiciária.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A mais elevada das artes

Desde os meus tempos de líder estudantil tive uma forte admiração pelo filósofo e poeta Henry Thoreau, que com a sua teoria da desobediência civil, embalava minha alma rebelada.

Verdadeiros grandes homens do mundo receberam de Thoreau a energia de suas palavras de fogo, Tolstói, Gandhi, Martin Luther King.

Hoje leio Thoreau com uma visão mais intimista, mais interior, mais transcendental. Por esses dias encontrei-me com uma frase dele que tenho meditado, procurando vivê-la:

"Uma coisa é ser capaz de pintar um quadro especial ou esculpir uma estátua, produzindo assim alguns objetos de beleza; mais é muito mais glorioso esculpir e pintar a própria atmosfera e a maneira pela qual vemos o mundo. Influir na qualidade do dia - esta é a mais elevada das artes".

Sempre alimentei um desejo quase que impossível de pintar, de esculpir, de desenhar. Às vezes vejo na minha imaginação um belo quadro, vejo os encantos das belezas da natureza, mas não tenho o talento para reproduzi-las. Ter esse dom é glorioso.

Mas Thoreau ensina que podemos pintar, esculpir, desenhar esse dia que vamos viver. Isso é ainda mais glorioso. Buscar ser feliz, cumprir com seus deveres, ser gentil, ser positivo, fazer o bem e tantas outras coisas que o milagre da arte pode conter. E pensando nessa frase de Thoureau é que escrevo esse texto como parte essencial desta arte que quero viver.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A arte da prudência para advogados

A arte da prudência é um livro encantador, pleno de ensinamentos morais de sublime elevação. Escrito no século XVII pelo filósofo Baltasar Gracián, a obra é um tesouro para quem sabe reconhecer um tesouro.

São ensinamentos universais que podem ser aplicados a todas as pessoas e profissões com as adaptações pertinentes. Como sou advogado aplico na minha carreira. É um verdadeiro tratado de deontologia, cujas máximas éticas nos conduzem ao agir correto.

Baltazar Gracián diz que são dois os polos que medem as qualidades de um homem: a moral e a inteligência. O advogado sabe do valor que a moral tem quando toma de conta de suas ações e de suas palavras, e que se torna uma força irresistível quando acompanhada de inteligência.

Descobri a relevância do livro para minha profissão de advogado e compartilho com todos aqueles que querem fortalecer, cuidar, aperfeiçoar sua profissão. No livro Gracián fala que alguma mentes irradiam luz, e essa luz são as virtudes que clareiam nossa vida, e são elas que nos dão o saber, e o verdadeiro saber é o saber viver, e é isso que o livro nos ensina: saber viver.

sexta-feira, 5 de março de 2010

A oratória e as parábolas

"O Reino dos Céus é como um grão de mostarda..."

Lendo o livro A ilha dos 5 faróis: um passeio pelas chaves da comunicação, deparei-me com a seguinte frase, de autoria de Anthony de Mello: "A distância mais curta entre o homem e a verdade é um conto".

E isso é verdade. Os grandes místicos do mundo se expressaram por meio de parábolas como forma de melhor ensinar a verdade. Jesus ensinava por meio de parábolas. Buda, Zaratustra, Gabriel, Osho, entre outros, também usavam histórias para fazer com que seus discípulos sentissem melhor o sabor da verdade.

O orador, seja ele político, religioso, forense, empresarial, deve saber que uma das chaves da comunicação é contar de forma memorável, marcante, uma história, um conto, uma parábola, sendo isso um farol a iluminar a boa ciência do bem dizer.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Oratória e Arquitetura

Os maçons costumam chamar seus discursos de peças de Arquitetura, pela elaboração, pelo planejamento que a oratória deve ter.

Assim como o Grande Arquiteto do Universo pensou a criação do mundo, assim o orador deve procurar arquitetar sua oratória, com o mesmo amor, com o mesmo zelo.

No livro Eles os juízes visto por um advogado, Calamandrei afirma que o orador é feito pela arquitetura, já que o ambiente na qual o orador falará decidirá seu estilo, seu jeito, seu modo, a forma e até o conteúdo da oratória.

Então vemos que o orador faz a arquitetura do discurso que pronunciará, mas esse discurso será reelaborado, recriado pela arquitetura do lugar que se desenvolverá sua palavra.

As relações feitas acima servem para ilustrar duas importantes lições de retórica: a primeira, o discurso deve ser planejado, elaborado, construído, pensado, arquitetado, trabalhado; a segunda, que o orador inteligente sabe da importância que tem o lugar onde será feito o discurso, e ciente, atento, perceptivo para essa situação saberá escolher a melhor maneira para transmitir a sua mensagem.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Grandes advogados são amantes dos livros

Não conheci até agora um grande advogado que não fosse amante dos livros.

Na história da advocacia o livro sempre foi o amigo inseparável do advogado, seu confidente, seu conselheiro.

Para sermos grandes advogados precisamos ler, ler muito, termos paixão pela leitura, pela cultura, pelo conhecimento, sermos amigos da sabedoria, verdadeiros filósofos, no sentido original da palavra.

Morreu, no último domingo, aos 95 anos, José Mindlin, bibliófilo, advogado, membro da Academia Brasileira de Letras, dono de uma das maiores bibliotecas particulares do Brasil.

Como seria bom se esse hábito tão bonito e sadio de ler e de cultivar livros servisse de exemplo para toda a juventude do Brasil!

E para quem pensa que o livro está se tornando coisa do passado frente ao advento da internet, fica a frase de Bill Gates: "É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros".