quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Grandiosa és tu, ó profissão da natureza!

A advocacia é realmente uma luta de paixões, de emoções tempestuosas, principalmente nas grandes causas.

Tem que ter nervos.

Para os momentos de derrota, principalmente nas causas justas.

Para os momentos de vitória, quando ver o triunfo da justiça.

Na derrota, a dor indizível, o choro contido, o desfalecimento do vigor físico.

Na vitória, a alegria, o êxtase, também o choro, o aleluia.

Que guerra, que batalha, que epopéia!

O guerreiro em pleno vulcão, por vezes tampa-o, a glória, por vezes a errupção, o martírio.

Grandiosa em és tu, ó profissão da natureza!

Que na voz do poeta revela a sua superioridade, no pico da vitória, ou no vale da derrota:

"A vida é luta renhida

A vida é um combate

Que aos fracos abate

Que aos bravos e aos fortes só pode exaltar".

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Apartes e contra-apartes bem feitos

George Bernard Shaw foi importante escritor irlândes e orador de brilhante talento.

Em certa oportunidade, Bernard Shaw, numa estréia de uma das suas peças, subiu ao palco para receber os entusiasmados aplausos da multidão.

Uma pessoa, contudo, aproveitando-se de uma breve brecha nos aplausos gritou:

- Sua peça é vazia, é uma droga!

Seguiu-se um momento de desconforto, de horrorizado silêncio, mas Shaw, sem se deixar perturbar, exclamou do palco:

- Meu amigo, concordo plenamente com você, mas o que somos nós dois - fez um gesto indicando a platéia - contra a opinião da grande maioria?

E os aplausos retornaram, mais altos do que antes.

Uma intervenção do orador para ser fulminante, decisiva, precisa ser bem ao estilo do realizado por Bernard Shaw: oportunidade, espontaneidade, presença de espírito, agilidade da inteligência, momento de feliz inspiração.

No júri é comum esses instantes de confronto entre os oradores, nos famosos apartes e contra-apartes.

Em certa ocasião, ainda neófito, fazia a defesa num júri, e em tom arrebatado citava, inapropriadamente, o Caso dos Irmãos Naves, pedindo aos jurados para não se cometer a mesma injustiça:

- Vejam senhores jurados, que grande erro judiciário aquele de Araguari, os Naves condenados pela morte de Benedito, dezesseis anos depois Benedito aparece vivo. Que medonha injustiça!

E o promotor aparteou-me, com um flecha certeira:

- Quem dera doutor que a vítima aqui também aparecesse viva como o Benedito, está aí o exame cadáverico comprovando a morte da infeliz".

Perdi o rebolado... e a causa também!

Nos dois exemplos podemos sentir todo o poder que tem um aparte ou um contra-aparte bem feito. Grandes armas retórica, para quem sabe usá-las.

A lei da partilha

Se você sabe partilhar você é maturo; se não sabe, é imaturo.

Essa partilha acontece em todos os níveis, em todas as direções, em todas as dimensões.

Uma das coisas mais básicas a compreender é que quanto mais partilha algo, mais o objeto partilhado cresce em você. Partilhe o que tiver e isso crescerá; apegue-se ao que for, tenha medo de partilhar, medo da amizade, medo do amor, e o objeto diminuirá. A vida só conhece uma lei: a lei da expansão e da partilha.

No momento em que você se torna avarento, você fecha as portas para o fenômeno mais básico da vida: a expansão e a partilha". Osho

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O convencimento antes da persuasão

Costumamos estabelecer diferença entre persuasão e convencimento. E essa diferenciação é real, existe no vasto mundo da oratória. A persuasão liga-se aos sentimentos. Quem persuade conquista o coração de seus ouvintes. O convencimento vincula-se a razão. Quem convence conquista a mente de seus interlocutores.

Um importante segredo da oratória é saber trabalhar com o convencimento e com a persuasão, em equilíbrio, como as duas asas de um pássaro.

Mesmo nas situações onde os fatores emocionais preponderam, deve o advogado primeiro convencer, para depois aproveitar para persuadir. Convencer significa mostrar provas, expor suas razões, combater a dos adversários, com lógica, com racionalidade, com técnica jurídica.

A emoção tem importante força no processo oratórico, porém não pode ser confundida com sentimentalismos baratos, forjados, vazios, apelativos. Depois de conquistada a razão, fica mais fácil para o advogado conquistar a emoção dos jurados. Aí a vitória é certa.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A capacidade do advogado de sistematizar

É assim que em grande medida identifico a inteligência. Capacidade de sistematizar, no sentido de organizar, por em ordem, harmonizar.

Ao pensar, ao falar, ao escrever, o advogado deve aperfeiçoar esta importante capacidade da mente humana.

O universo é um sistema, onde reina a mais perfeita harmonia, a racionalidade superior.

A ciência é um sistema lógico, coerente, racional.

Um discurso deve ser sistematizado. Tem que ter início, meio e fim, e cada argumento deve está relacionado com o todo.

A capacidade de sistematizar também precisa reinar em seu ambiente de trabalho. Tudo no seu devido lugar, em organização. Mas isso não deve ser tornar uma neurose, mas a manifestação espontânea de sua inteligência.

Custo a crer que um homem bem realizado, pessoal e profissionalmente, prescinda da capacidade de sistematização... seja desarrumado nas coisas que ele faz.

Grandes advogados, quando assomavam a tribuna para apresentar a defesa de seus constituintes, que beleza, que ordem, que harmonia, que lógica, que planejamento!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A oratória madura do advogado

Lendo o livro O Advogado, de Henri Robert, um dos mais consagrados advogados franceses do século passado, no capítulo que fala a respeito da sustentação oral, encontramos preciosas lições de oratória forense.

Em geral, imagina-se que um grande advogado deve necessariamente ser grandiloquente e espalhafatoso na sua maneira de falar.

Não, um grande advogado é o contrário disso. Seu falar é sincero, breve, elegante, simples, tem profundidade.

A emoção que expressa não é forçada, é discreta, contida, vem com naturalidade. Nada é mais falso no tribunal do que o gênero teatral, perigoso para a causa, insincero, artificial.

Lembro-me que quando a doutora Salete Maia me explicava alguma coisa do júri sempre dizia: "Nunca invente emoção, se ela surgir espontaneamente, muito bom, saiba usá-la em seu favor, mas sempre com sinceridade".

Aconselha Henri Robert a deixar de lado os floreios retóricos. É preciso apenas que a chama da convicção anime nossa palavra.

E deixa uma sábia constatação: "Quanto mais experiência de tribunal um advogado adquire, quanto mais reputação tem, mais ele procura adaptar-se a um modelo claro, leve, conciso charmoso e simples de falar".

Essa maduridade na oratória do advogado se constrói com a experiência, nas vitórias e nas derrotas, com o estudo, lendo, escrevendo, observando, refletindo, alimentando o espírito com o conhecimento.

É quando esta oratória madura, sábia, se manifesta no advogado que dele podemos dizer o que disse o grande Cícero: Vir bonus dicendi peritus. Homem de bem que sabe falar.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Não aja nas negatividades!

Esse é um sábio ensinamento que vem das palavras de um místico zen.

Lembrar sempre desta lição, e colocá-la em prática, nos poupa de grandes dores de cabeça, de grandes sofrimentos.

Em momentos de mau-humor, de raiva, de inveja, de ciúme, de ambição, de orgulho, evite os movimentos das palavras, recolha-se até a tempestade passar.

Tenha consciência do que acontece, e a cada superação nos tornamos mais equilibrados, mais donos de si, mais fortes, mais firmes.

Os momentos negativos são destruidores. Aja nos momentos positivos, onde podemos criar, alimentar sonhos, e buscar a felicidade.

Para o advogado, até mesmo se aconselha, se puder, quando dominado pelas negatividades, a só atender seus clientes, a só peregrinar em busca de soluções de seus processos, quando devidamente reestabelecido em suas emoções.

Hoje falo tudo isso por experiência própria, já passei alguns apuros, por violar essa lição. Todos nós temos altos e baixos, se não todos os dias, mas pelo menos de tempos em tempos, e evitar agir nas negatividades é um bom ensinamento que devemos entesourá-lo em nossos corações.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Reação ou resposta do advogado?

Diz a 3º Lei de Newton que "a toda ação corresponde uma reação, de igual intensidade e sentido oposto".

Quase que diariamente o advogado é chamado a reagir as mais diferentes ações da profissão. No contato com a parte, com os ex adversos, com as autoridades, nas manifestações processuais escritas ou orais, etc.

São nas situações delicadas da vida que o advogado deve ter a estudada cautela, a inteligência emocional, para trocar a reação pela resposta.

Reagir é instintivo, irracional, mêcanico, inconsciente e demonstra imaturidade emocional. Responder é racional, dialético, reflexivo, consciente e demonstra inteligência emocional.

Por causa de nossas reações não encontramos as respostas que precisamos. Causamos prejuízos em nós e nos outros.

Nem sempre é fácil trocarmos as reações pelas respostas, mas tenho visto a importância desta atitude, que faz com que o advogado cresça, ganhe credibilidade e atue cada vez mais com consciência do que faz, requisito fundamental para a realização profissional.

Portanto, devemos concluir que a cada ação deve corresponder uma resposta, o que fará de nós seres humanos não mais reféns de cegos instintos, mas caminheiros conscientes de nossa escalada espiritual.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Do outro lado da mesa, mas do mesmo lado da justiça!

Enrico Ferri, um dos maiores advogados criminalistas da História, escreveu dois livros onde registra seus principais momentos no tribunal do júri italiano.

Numa obra narra os Discursos Penais de Defesa, e na outra, os Discursos Penais de Acusação, mostrando que o advogado, para ser inteiro, precisa conhecer e saber atuar na acusação e na defesa, nos dois lados, tendo como critério dessa escolha, a consciência do que é certo em cada caso concreto.

Atuei, ontem, do lado da vítima, como assistente do Ministério Público, por entender que o réu merecia uma justa reprimenda, e que não estava amparado por nenhuma tese jurídica razoável que justificasse a sua conduta.

Estava fazendo a defesa da vida. E como norte espiritual do caminho a trilhar na minha oratória escolhi a frase do filósofo transcendentalista Ralph Waldo Emerson: "Viver, deixar viver e ajudar a viver".

Durante o julgamento, o advogado de defesa, sustentando suas razões, verberou, do alto de sua experiência de mais de duas décadas de atuação no pretório popular: "Meu cliente é inocente porque apresentou sempre a mesma versão".

Eu o aparteei: "Sofismando, mas não provando".

Ele rebateu: "Mas é o senhor quem sempre diz isso aqui no júri, de que quem fala a verdade é como o vôo da andorinha, sempre retilínio, e que quem fala a mentira é como o vôo do morcego, sempre vacilante".

Respondi-lhe: "Mas a coisa dita muito certinha, muito preparadinha é jogo de delinquente astucioso, orientado por advogado esperto".

E perdeu a compostura, partindo para a agressão gratuita: "Isso é patético o que esse advogadozinho diz, só porque senta hoje do outro lado da mesa...".

E de prontou completei: "...Do outro lado da mesa, mas do mesmo lado da justiça".

Ao final, o júri condenou o réu, que matou uma mãe de família trabalhadora, da qual deixou três filhos órfãos, sendo um deles deficiente físico e mental, que ainda hoje procura pela mãe nos cantinhos de seu lar. O réu, que deu um facada em cima do coração da vítima, acertou também o coração de três crianças, que ao perderem a mãe, perderam a maior doçura que Deus nos deu de presente.

Do outro lado da mesa, sim, doutor, mas do mesmo lado da justiça!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A advocacia não é para os nervosos e desarticulados

Ouvi recentemente o audiolivro A História de Minhas Experiências com a Verdade, de autoria de Gandhi, o libertador da Índia.Na impossibilidade de ler o livro, porque ainda não o encontrei, serviu-me escutar o audiobook.

Gandhi usou duas maneiras de viver para levar um povo inteiro a quebrar os grilhões da escravidão: a verdade e a não-violência, respectivamente, satiagraha e ahimsa.

Tagore o chamou de Mahatma, A Grande Alma. E dele disse Albert Einstein: "As futuras gerações dificilmente acreditarão que tenha passado pela terra, em carne e osso, um homem como Gandhi".

Advogado por vocação abraçou a causa da humanidade inteira: a liberdade, os direitos humanos, a dignidade dos homens, nossa condição de filhos de Deus.

Da advocacia falou em seu livro: "Ela não foi feita para os nervosos e desarticulados".

E cuidou de tratar desses dois defeitos para melhor advogar as causas dos filhos de Deus. De homem tímido e nervoso passou a enfrentar, com destemor, a tirania dos aplicadores das leis britânicas. De homem desarticulado alcançou o domínio de seus pensamentos, de suas palavras e de suas ações, comandando milhões de pessoas com o princípio da verdade, que para ele era o maior dos princípios e o originador de todos os outros, pois Deus é a Verdade.

Gandhi é um mestre de nossa profissão. Com ele devemos aprender que, nas nossas batalhas diárias, é sempre a verdade, a justiça e a paz entre as pessoas que devem nortear o tecer das lutas forenses.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Torne-se mais leve para voar mais alto

Essa frase não é minha, é de Osho, uma das consciências mais claras do século XX. "Torne-se mais leve para voar mais alto" contem simples e valorosas lições para a nossa vida diária.

Para nós, advogados, a leveza no exercício profissional nos leva a lugares bem bonitos. Deixar o que é pesado, o que estressa, saber escolher melhor nossas causas, não discutirmos por besteira, discernirmos o essencial do não essencial, rirmos mais, celebrarmos mais, agradecermos mais, sermos mais amenos, menos dinheiristas, sermos mais românticos na vida, mais poéticos, amar a justiça, cumprirmos nossos deveres e praticarmos o bem.

Isso tudo é ser mais leve. Nossa bagagem de viagem só deve conter o que for importante e necessário.

Edmundo Hillary, o primeiro homem a chegar no topo do monte Everest, diz em sua autobiografia: "À medida que me aproximava, eu tinha que deixar cada vez mais coisas para trás. No último momento, tive que deixar quase tudo, porque tudo se tornou um peso".

Quanto mais alto você chegar mais leve precisa estar. Sem o peso da raiva, da avareza, do orgulho, do medo, da vaidade, da inveja, do apego. Se você continua a se apegar as coisas de baixo como pode voar alto?

Leveza é paz, é vitória. Leve como a pruma ao vento, já diziam os poetas, e que a minha alma hoje inquieta busca ver mais alto o arrebol, de tão perto vendo a aurora clareando com o sol.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O poder simbólico da gravata

O uso da gravata não é mais privilégio dos doutores da lei. Pastores, executivos, jornalistas e muitos outros a tem como ingrediente importante de sua indumentária profissional.

Para uns, a gravata nasceu na Antiga Roma, quando oradores usavam um pedaço de seda em volta do pescoso para ajudar a aquecer as cordas vocais, antes de pronunciarem seus retumbantes discursos. Observe que ela tem estreita relação com aqueles que usam a palavra como principal ferramenta de trabalho.

Para outros, a gravata tem origem etimológica na palavra croata, que era um bando de cruéis mercenários que amarravam lenços em volta do pescoço antes de partirem para as sangrentas batalhas. Veja que isso também tem relação com os profissionais acima citados. Numa interpretação raivosa e preconceituosa eles são "um bando de urubus mercenários que nas batalhas diárias fazem de tudo para ser dar bem".

Quando estava em início de carreira como advogado, um certo juiz amigo meu aproximou-se de mim e me chamou a atenção: "Quem tira a gravata perde a autoridade". Meditei a respeito, e hoje só muito raramente a deixo de usar. No cotidiano forense e policial pude perceber uma sutil e importante diferença na forma com são tratados os profissionais que usam e os que não usam a gravata em suas atividades profissionais.

Muito embora a autoridade de uma pessoa não esteja na roupa que veste, a psicologia das vestimentas muito conta na vida diária de todos os profissionais, e até mesmo revela sua personalidade. Um profissional sem a gravata passa uma certa mensagem inconsciente de insegurança, de derrotismo, de insucesso e até mesmo de relaxamento profissional.

Não podemos desconhecer o poder do simbolismo, não podemos ignorar as sutilezas que envolvem as complexas teias das relações humanas. O modo como você se veste em muito conta na hora de definir seu futuro profissional.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Encontrando-me com pessoas notáveis

Peregrinando pelas livrarias e sebos de Porto Velho tenho encontrado muitos livros bons. Com certeza me auxiliarão na caminhada deste novo ano. Comprei livros de xadrez, livros de direito, livros de espiritualidade, livros de oratória, só cultura boa para alimentar bem minha mente.

Em breve, depois da leitura, comentarei, de forma mais rica, alguns destes livros que adquiri.

Estou saboreando um novo livro de Osho, Encontros Com Pessoas Notáveis. Fala de Jesus, de Buda, de Sócrates, de Pitágoras, de Heráclito, de São Dionísio, de Nietszche, de Bodhidarma, de Krishna, de Kalil Gibran, de Chuang Tzu, e de muitas pessoas sábias que já passaram pelo planeta terra. Inspirador, iluminado, grandioso, é isso que eu posso dizer deste livro.

Também estou lendo Os Limites da Lei, um romance jurídico de Scott Turow, advogado criminalista americano de grande prestigío na cidade de Chicago. O livro aborda a subjetividade no ato de julgar; como o que nós somos, o que já fizemos, o que habita em nós, pode muitas vezes corromper a majestade da Justiça.

Gosto de ler várias obras ao mesmo tempo, quando me canso de uma mergulho em outra. Ler para mim é como estar em férias permanente. E é isso que ando fazendo por esses dias, com mais degustação, de forma mais planejada, no recesso forense. Renovado, revigorado, aperfeiçoado, reencantado, é assim que me quero nesse novo ano. E como falava os antigos romanos: sic itur astra. E assim se chega aos céus.